quinta-feira, 15 de abril de 2010

Garrincha, Zezé Moreira e a cadeira da Brahma


Nos idos dos anos de 1948 a 50, o Botafogo teve um treinador chamado Zezé Moreira, cuja principal característica profissional era a rigidez e a disciplina que impunha ao time. Era adepto da marcação por zona e foi treinador de grandes clubes do Brasil, chegando a dirigir a Seleção Brasileira em 1954, na Copa do Mundo disputada na Suíça.

Anos atrás, Zezé fora jogador do alvinegro, formando com Martim e Canale uma linha de halfs (linha média) famosa na época pela “força bruta” e pelo jogo duro. Geninho, de quem falei anteriormente, chegou a jogar com eles, recém chegado de Minas Gerais. Dizia que não gostavam que ele recuasse até a intermediária botafoguense para fazer a ligação entre defesa e ataque - sua “missão” específica -, e gritavam: “Não volta não, Geninho, que a bola chega aí!”

Já como treinador do Botafogo, Zezé foi campeão carioca de 1948 com brilhantismo, só perdendo o primeiro jogo.

Até que, tempos depois, chegou ao Botafogo um jogador desconhecido, chamado Garrincha, “descoberto” em Pau Grande por Araty, ex-jogador botafoguense, também campeão de 48.

Garrincha era o oposto dos princípios do “seu” Zezé. Exímio driblador, indisciplinado taticamente, extremamente criativo – era, enfim, o oposto do “Homem”.

E aconteceu que, num treino de conjunto, a linha do Botafogo não conseguia fazer gol no time reserva, apesar dos baita jogadores de que dispunha. Aí seu Zezé, impaciente, parou o treino coletivo. Debaixo de um chapéu de palha (pois o sol era forte nos treinos, que eram matinais), mandou seu auxiliar pegar uma cadeira de propaganda da cerveja Brahma, dessas de dobrar, que ficavam colocadas num espaço cimentado ao lado da social do Botafogo. Espanto geral!!!

Seu Zezé colocou a cadeira, já aberta, no bico esquerdo da grande área do campo, e se encarapitou nela, dando instruções precisas para o Mané: “Receba a bola do Pampolini, entre o meio de campo e a linha média adversária. Venha até a cadeira e só então centre para os atacantes treinarem a finalização.” Era, claro, tudo simulado, com o time titular fazendo apenas figuração da jogada a ser treinada – e o Mané na berlinda.

A jogada foi repetida dezenas de vezes e nada de sair gol. Apesar do Garrincha fazer tudo como seu Zezé queria, por culpa dos finalizadores ia tudo para fora. Até que o santo baixou em Mané. O “Torto” caminhou “tocando” a bola até a cadeira com seu Zezé em cima, olhou para um lado e para o outro e resolveu. Deu aquele célebre drible pela direita, foi no fundo do campo e centrou para trás, pegando os atacantes de frente para finalizar e... gol para os titulares!!! E voltou pulando de alegria!!!

Seu Zezé, louco de raiva, afundou o chapéu de palha cabeça abaixo e deu o treino por encerrado, para riso geral. Era a perpetuação da qualidade maior do genial Garrincha: a improvisação. Com jogadas como esta, Mané municiou jogadores famosos como Mazzola, Vavá, Amarildo, Chinesinho, Bruno Siciliano, Amoroso, China, Paulo Valentim e até o próprio Pelé, que recebiam a bola de frente para o gol, com os beques sem chance de intervir.

Viva o Mané!!!

Foto de Zezé Moreira colhida da internet.
Texto de Ronald Alzuguir

Um comentário:

  1. Parabens Ronald!!! Pai da Renata e do Esse comentário vem de VALERIA PEREIRA que não conseguiu postar por seu próprio email.

    "Rodrigo, avô da Manuela,
    Marino da Isaura ;pessoas tão queridas e importantes em nossas vidas!
    Que legal, que bom ter tanta vida para recordar, quanta realização!
    Continue " escrevendo" sua história , com muitos "passes" , " dribles" ,
    e com " milhares" de gols!!!! Um bj com muito carinho! Valéria."

    ResponderExcluir