Chega finalmente à rede mais uma edição da sua Marreta Popular!
Sempre inovando, a Marreta dá um "drible" nas expectativas gerais. Além de publicar textos originais e itens do acervo particular de Rona (nº 4 nas costas), o blog inaugura nessa edição a sessão interativa "Pergunte ao Marreta". A pergunta do mês se refere a como marcar Pelé e foi enviada pelo cunhado Fernando Valle. Participe você também enviando sua pergunta para quartozagueiro@gmail.com ou postando-a como comentário de algum dos posts.
No mais, divirta-se com episódios engraçados protagonizados por Garrincha, Zezé Moreira e Buruca (do Flamengo)! Em breve voltaremos a publicar fotos e reportagens.
Inté!
N. do E.
quinta-feira, 15 de abril de 2010
Pergunte ao Marreta
Pergunta de Fernando Valle: Grande cunhado e amigo, diz pra gente: como era "marcar" o Pelé? Era melhor entrar duro de cara ou aliviar pra não irritar a "fera"?
MARRETA: Caro Fernando, nenhuma coisa nem outra. Para mim, o melhor era "tentar" marcá-lo com lealdade e firmeza, porque o Negão não era de "fugir do pau". Não valia a pena tentar acompanhá-lo por todo o campo, porque nestes deslocamentos o Pelé cansava a defesa e criava espaço para outras feras do time, que também não eram moles (Pêpe, Coutinho, Mengálvio, Pagão, Dorval e outros). Com o Santos daquela época, o melhor sistema, portanto, era marcação por "zona cerrada". O atacante só era combatido por um determinado marcador no momento em que "invadisse" a sua respectiva zona, o que evitava o dispêndio de energia da defesa no acompanhamento ao deslocamento constante da linha adversária. Tive o privilégio de marcar várias vezes o nº 10 e puder perceber nele três grandes qualidades como jogador: lealdade, talento e valentia.
MARRETA: Caro Fernando, nenhuma coisa nem outra. Para mim, o melhor era "tentar" marcá-lo com lealdade e firmeza, porque o Negão não era de "fugir do pau". Não valia a pena tentar acompanhá-lo por todo o campo, porque nestes deslocamentos o Pelé cansava a defesa e criava espaço para outras feras do time, que também não eram moles (Pêpe, Coutinho, Mengálvio, Pagão, Dorval e outros). Com o Santos daquela época, o melhor sistema, portanto, era marcação por "zona cerrada". O atacante só era combatido por um determinado marcador no momento em que "invadisse" a sua respectiva zona, o que evitava o dispêndio de energia da defesa no acompanhamento ao deslocamento constante da linha adversária. Tive o privilégio de marcar várias vezes o nº 10 e puder perceber nele três grandes qualidades como jogador: lealdade, talento e valentia.
Garrincha, Zezé Moreira e a cadeira da Brahma
Nos idos dos anos de 1948 a 50, o Botafogo teve um treinador chamado Zezé Moreira, cuja principal característica profissional era a rigidez e a disciplina que impunha ao time. Era adepto da marcação por zona e foi treinador de grandes clubes do Brasil, chegando a dirigir a Seleção Brasileira em 1954, na Copa do Mundo disputada na Suíça.
Anos atrás, Zezé fora jogador do alvinegro, formando com Martim e Canale uma linha de halfs (linha média) famosa na época pela “força bruta” e pelo jogo duro. Geninho, de quem falei anteriormente, chegou a jogar com eles, recém chegado de Minas Gerais. Dizia que não gostavam que ele recuasse até a intermediária botafoguense para fazer a ligação entre defesa e ataque - sua “missão” específica -, e gritavam: “Não volta não, Geninho, que a bola chega aí!”
Já como treinador do Botafogo, Zezé foi campeão carioca de 1948 com brilhantismo, só perdendo o primeiro jogo.
Até que, tempos depois, chegou ao Botafogo um jogador desconhecido, chamado Garrincha, “descoberto” em Pau Grande por Araty, ex-jogador botafoguense, também campeão de 48.
Garrincha era o oposto dos princípios do “seu” Zezé. Exímio driblador, indisciplinado taticamente, extremamente criativo – era, enfim, o oposto do “Homem”.
E aconteceu que, num treino de conjunto, a linha do Botafogo não conseguia fazer gol no time reserva, apesar dos baita jogadores de que dispunha. Aí seu Zezé, impaciente, parou o treino coletivo. Debaixo de um chapéu de palha (pois o sol era forte nos treinos, que eram matinais), mandou seu auxiliar pegar uma cadeira de propaganda da cerveja Brahma, dessas de dobrar, que ficavam colocadas num espaço cimentado ao lado da social do Botafogo. Espanto geral!!!
Seu Zezé colocou a cadeira, já aberta, no bico esquerdo da grande área do campo, e se encarapitou nela, dando instruções precisas para o Mané: “Receba a bola do Pampolini, entre o meio de campo e a linha média adversária. Venha até a cadeira e só então centre para os atacantes treinarem a finalização.” Era, claro, tudo simulado, com o time titular fazendo apenas figuração da jogada a ser treinada – e o Mané na berlinda.
A jogada foi repetida dezenas de vezes e nada de sair gol. Apesar do Garrincha fazer tudo como seu Zezé queria, por culpa dos finalizadores ia tudo para fora. Até que o santo baixou em Mané. O “Torto” caminhou “tocando” a bola até a cadeira com seu Zezé em cima, olhou para um lado e para o outro e resolveu. Deu aquele célebre drible pela direita, foi no fundo do campo e centrou para trás, pegando os atacantes de frente para finalizar e... gol para os titulares!!! E voltou pulando de alegria!!!
Seu Zezé, louco de raiva, afundou o chapéu de palha cabeça abaixo e deu o treino por encerrado, para riso geral. Era a perpetuação da qualidade maior do genial Garrincha: a improvisação. Com jogadas como esta, Mané municiou jogadores famosos como Mazzola, Vavá, Amarildo, Chinesinho, Bruno Siciliano, Amoroso, China, Paulo Valentim e até o próprio Pelé, que recebiam a bola de frente para o gol, com os beques sem chance de intervir.
Viva o Mané!!!
Foto de Zezé Moreira colhida da internet.
Texto de Ronald Alzuguir
Garrincha, Zezé Moreira e as pequenas
Todos nós sabemos que o Mané era bom dentro de campo e fora dele. Era um cara simples, de bom coração e muito querido – especialmente pelas mulheres, que viviam na sua cola.
Numa ocasião, o Botafogo jogaria em Minas Gerais (onde, aliás, tinha uma torcida enorme), e lá não foi diferente: Mané começou a ser provocado pelas garotas. Acabou marcando um encontro com uma delas, numa determinada casa de fama um tanto suspeita, e justamente na véspera de um jogo. Na verdade, namoro em véspera de partida nunca atrapalhou o jogador Mané, porque na hora H ele ia lá e “estraçalhava” o adversário. Mas era terminantemente proibido.
Acontece que alguém do hotel em que o Botafogo estava hospedado abriu o bico com seu Zezé a respeito das intenções noturnas do Garrincha. Como Mané era muito querido por todos, logo apareceu um “contra-espião” para avisá-lo de que a combinação com a morena tinha vazado. E que seu Zezé pretendia flagrá-lo pessoalmente no “local do crime”, com a boca na botija. Esperto e brincalhão, Mané se fez de bobo e escapuliu da concentração rumo ao local do encontro, como se nada soubesse. Lá chegando, ao invés de entrar, se escondeu atrás de um automóvel em frente e aguardou a chegada do seu Zezé.
Pouco tempo depois, lá veio o técnico, de terno e gravata, para empatar a transa em perspectiva. Ao chegar à porta da casa, seu Zezé ia tocar a campainha para dar o flagra em Garrincha, quando levou um susto. Era o próprio que aparecia de repente, de trás do automóvel, surpreendendo-o.
“Aí seu Zezé!” – disse Garrincha, admirado – “O senhor também gosta, ein!”
E voltaram os dois para o hotel, com seu Zezé perplexo (para não dizer outra coisa).
Foto de Zezé Moreira colhida da internet.
Texto de Ronald Alzuguir
O short amigo
Antes de dormir, um dirigente responsável pela equipe costumava passear pelos corredores do hotel onde o time estivesse concentrado, entreabrindo a porta dos quartos dos craques para uma última checagem da presença dos “perigosos”. À meia luz, dava uma espiada no local para ter certeza de que não havia nenhuma cama vazia e, portanto, nenhum fujão. Ficava tranqüilo quando via numa cama ao fundo o corpo moreno do Garrincha vestindo seu mais que manjado short (um modelo "cheguei" que Mané fazia questão de usar dia e noite na concentração).
Com isso, sem saber, embarcava no truque do Mané. Nas noites de boemia, o short era emprestado a um “dublê de corpo” (em geral um colega com biótipo similar ao seu), que deitava em sua cama e marcava presença. Era mais um drible do “Torto” (como era chamado na intimidade pelos colegas) contra as “defesas” convencionais!!!
Foto do acervo de Ronald. Ano: 1960. Botafogo em concentração. Da esquerda para direita: Garrincha, Paulo Amaral, Nilton Santos e Ronald. Sentado, Cetale.
Texto de Ronald Alzuguir
Buruca e a sopa quentinha
Em 1962, fui contratado pelo Flamengo. (Lá, por coincidência, doze anos antes, tinha começado a jogar futebol de campo, com chuteira, no infantil, levado pelo meu irmão Nabih, jogador do clube de quem o Zizinho se dizia o maior fã.)
Excursionamos pela Europa, Rússia – naquela época separada pela célebre Cortina de Ferro –, norte da África (Tunísia) e Gana.
Foi uma viagem longa, de três meses, durante a qual aconteceram coisas super engraçadas que serviam para mostrar a personalidade de cada um. Éramos comandados pelo técnico Flávio Costa, treinador da Seleção Brasileira em 1950, que, apesar de excepcional, não conquistou o campeonato mundial no jogo final contra o Uruguai.
Chegamos à Escandinávia e ficamos sete jogos sem ganhar. Por causa disso, Gunnar Goransson, presidente da Facit na América do Sul e dirigente do Flamengo, solicitou ao seu amigo e empresário Borj Lantz, sueco como ele, que conseguisse alguns jogos na União Soviética, onde, achava-se, o nível do futebol era inferior e poderíamos ter mais sucesso. Ficamos hospedados num dos melhores hotéis de Moscou, perto da Praça Vermelha, e logo no primeiro dia de treino o couro comeu.
Foi um treino longo e muito pesado. Voltamos para o hotel cansados e com muita fome. É de se observar que a comida era servida em porções mínimas e a turma, mal acostumada, reclamava sempre.
No almoço, depois do treino, a fome era geral. Sentamos à uma das mesas preparadas para receber a delegação completa, no salão principal do hotel. O Buruca sentou-se a uma das extremidades da mesa, tendo já observado que o garçon, ao sair da cozinha, passaria primeiro por aquele lado. Ele, comilão que era, seria então o primeiro a ser servido. A delegação, toda presente, aguardava ansiosa que o almoço fosse servido.
Para espanto do Buruca, o garçon achou por bem começar a servir a delegação pelo outro lado. Esfomeado, percebeu que, de primeiro, tinha passado para o fim da fila. E foi aí que ele atestou a capacidade de improvisação e a esperteza do jogador brasileiro. Tranquilamente, abriu a boca e retirou a dentadura superior que usava e a “pousou” dentro do prato de sopa do colega sentado em frente, recém servido.
Tal e qual um submarino, e para espanto de todos, a dentadura foi afundando aos poucos e submergiu na sopa, desaparecendo no fundo do prato, que foi, então, gentilmente recolhido pelo Buruca.
Com a colher, Buruca recolheu a “perereca”, fixou-a novamente na boca e, com a maior descontração, provou a sopa, dizendo para os colegas: “Está muito boa!”
Risada geral e alívio para o estômago do Buruca.
OBS1: Deixei de citar o nome do atleta para evitar qualquer constrangimento por parte de alguém.
OBS2: O Buruca era um jogador veterano no CRF, campeão várias vezes, negro e muito forte, severo na marcação e quase sempre risonho e afável, apesar de destemido. Jogava duro, mas era um cara legal.
Texto de Ronald Alzuguir
Excursionamos pela Europa, Rússia – naquela época separada pela célebre Cortina de Ferro –, norte da África (Tunísia) e Gana.
Foi uma viagem longa, de três meses, durante a qual aconteceram coisas super engraçadas que serviam para mostrar a personalidade de cada um. Éramos comandados pelo técnico Flávio Costa, treinador da Seleção Brasileira em 1950, que, apesar de excepcional, não conquistou o campeonato mundial no jogo final contra o Uruguai.
Chegamos à Escandinávia e ficamos sete jogos sem ganhar. Por causa disso, Gunnar Goransson, presidente da Facit na América do Sul e dirigente do Flamengo, solicitou ao seu amigo e empresário Borj Lantz, sueco como ele, que conseguisse alguns jogos na União Soviética, onde, achava-se, o nível do futebol era inferior e poderíamos ter mais sucesso. Ficamos hospedados num dos melhores hotéis de Moscou, perto da Praça Vermelha, e logo no primeiro dia de treino o couro comeu.
Foi um treino longo e muito pesado. Voltamos para o hotel cansados e com muita fome. É de se observar que a comida era servida em porções mínimas e a turma, mal acostumada, reclamava sempre.
No almoço, depois do treino, a fome era geral. Sentamos à uma das mesas preparadas para receber a delegação completa, no salão principal do hotel. O Buruca sentou-se a uma das extremidades da mesa, tendo já observado que o garçon, ao sair da cozinha, passaria primeiro por aquele lado. Ele, comilão que era, seria então o primeiro a ser servido. A delegação, toda presente, aguardava ansiosa que o almoço fosse servido.
Para espanto do Buruca, o garçon achou por bem começar a servir a delegação pelo outro lado. Esfomeado, percebeu que, de primeiro, tinha passado para o fim da fila. E foi aí que ele atestou a capacidade de improvisação e a esperteza do jogador brasileiro. Tranquilamente, abriu a boca e retirou a dentadura superior que usava e a “pousou” dentro do prato de sopa do colega sentado em frente, recém servido.
Tal e qual um submarino, e para espanto de todos, a dentadura foi afundando aos poucos e submergiu na sopa, desaparecendo no fundo do prato, que foi, então, gentilmente recolhido pelo Buruca.
Com a colher, Buruca recolheu a “perereca”, fixou-a novamente na boca e, com a maior descontração, provou a sopa, dizendo para os colegas: “Está muito boa!”
Risada geral e alívio para o estômago do Buruca.
OBS1: Deixei de citar o nome do atleta para evitar qualquer constrangimento por parte de alguém.
OBS2: O Buruca era um jogador veterano no CRF, campeão várias vezes, negro e muito forte, severo na marcação e quase sempre risonho e afável, apesar de destemido. Jogava duro, mas era um cara legal.
Texto de Ronald Alzuguir
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